quarta-feira, 5 de setembro de 2007

CAPÍTULO I : O BOMBARDEIO E OS REFUGIADOS


Dois homens jaziam inertes no chão depois que uma explosão os atingiu. Ao longe se podiam ouvir os gritos da turba insana, correndo como gado de um lado para outro. A cidade estava em ruínas. Os poucos sobreviventes que restaram ou estavam muito feridos ou sequer se podiam levantar. Os hopitais públicos, os poucos que permaneciam de pé, estavam lotados e o seu estado era precário.
Naquela manhã cizenta uma névoa seca cobria o céu do oriente. Durante toda a noite anterior podia-se ouvir os sons distantes das cirenes das ambulâncias e o barulho dos alarmes anti-aéreos que denunciavam um outro impiedoso bombardeio das tropas aliadas. O pânico e o horror eram terríveis. A única escapatória era se esconder nos abrigos subterrâneos ou tentar a sorte comos os demais tentando escapar da zona urbana, alvos potenciais das incursões da aviação inimiga.
Naquele cenário de barbárie não se podia fazer concessões ou se dar o luxo de permanecer em casa. Todas as possibilidades só apontavam para uma direção - o deserto. A coisa mais certa a se fazer naquele momento era fugir. O rumor que se levantava dava uma idéia clara que o conflito estava longe de terminar e os indícios de uma nova ofensiva eram mais evidentes.
No campo de refugiados ao sul de kiriashi, levas e mais levas de pessoas escapando do caos da guerra se acotovelavam diante dos comboios de ajuda humanitária para receber ao menos alguma parca ração de pão e cereal. Era uma cena dramática. Milhares de pessoas sem destino lutando pela sobrevivência de uma forma cruel e desumana. Como animais amontoados no chão e acuados pela miséria e infâmia provocados pelo ódio e tirania belicosa de um conflito que não tinha tempo certo para encerrar-se.
No hospital da Cruz Vermelha instalado provisoriamente nas imediações do acampamento, os cirurgiões faziam o possível com os poucos recursos de que dispunham para salvar vidas ou mesmo mitigar a dor daqueles que estavam agonizantes.
A equipe formada pelo Dr Scot, médico formado na Inglaterra e de grande experiência em grandes catastrófes, o Dr Lewis, veterano da 1ª Grande Guerra Mundial, também Inglês, e o Dr Swanson, Especialista Americano em traumato-ortopedia, com várias condecorações por serviços prestados por seus trabalhos em favor da humanidade, esforçavam-se como podiam. No entanto, eram inevitáveis as numerosas mortes, sobretudo, ocasionadas por infecções decorrentes da insalubridade das instalações.
Os Médicos sabiam que não podiam fazer muita coisa. Mas, mesmo assim procuravam salvar os poucos que estavam menos debilitados. Era uma escolha difícil. Alí era decidido quem iria ficar vivo e quem iria morrer. O Dr Lewis sempre dizia:
- O que se pode fazer em alguns casos é esperar apenas por um milagre.
- Nós fizemos o que podiamos e o que não podiamos para salvar a muitos.
-Mas, é impossivel nestas condições lugubres.
- A guerra é a pior das barbáries. Repetia com frequência o velho e experiênte ancião, alquebrado pelo peso dos anos.
Swanson seu amigo de longa data. Às vezes lamentava o fato de os homens empregarem tanto tempo e dinheiro para se matarem uns aos outros. Nunca imaginou-se numa guerra. Quando jovem optou em ser médico para atender ao capricho de seus pais. Todavia, à medida que aprofundou-se nos estudos de Medicina, percebeu que aquilo seria o seu sacerdócio por toda a vida. Agora, ali estava ele entre moribundos e vultos desvalidos. Enfrentando a crueza dos campos de batalha.
Como Lewis, Swanson era um idealista. Sabia que sem o seu cuidado os estado daquelas almas seria pior. Só lamentava o fato de não ter remédios e recursos suficientes para salvá-los. O dinheiro não era seu objetivo. Estava ali porque sentia uma forte inclinação por causas humanitárias. Era o seu dever como homem da Ciência usar o seu conhecimento para dar um pouco de alento à párias e pobres miseráveis esquecidos pelo mundo.

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