domingo, 26 de agosto de 2007

Uma época de contradições

Uma época de contradições

O avanço da ciência e da tecnologia produz sérios problemas sociais e desigualdades que estão longe de serem solucionados pelo homem moderno


O nosso mundo é complexo e cheio de surpresas fantásticas que fascinam os observadores de plantão. Nós, seres humanos, há muito nos esquecemos da arte da contemplação do infinito, das estrelas, dos seres inúmeros que habitam o nosso universo macroscópico e microscópico para nos prender a detalhes insignificantes da vida que não trazem quaisquer sentidos à existência temporal.
Podemos pensar em como viviam os homens das sociedades do passado e de como usavam o tempo que eles dispunham. Lembremo-nos de que eles não tinham todo esse aparato tecnológico que temos hoje. Não acessavam a computadores, não tinham aparelhos celulares e não andavam em automóveis modernos como o homem do Século XXI; contudo, a qualidade de vida que desfrutavam era bem melhor que a nossa.
Nossos ancestrais embora não gozassem de todas as novidades que hoje dispomos, não corriam os riscos de serem atropelados por carros velozes nas rodovias, porque não existiam rodovias naquela época. Não viviam estressados como os nossos contemporâneos, escravos da modernidade, que não têm tempo sequer para dar um sorriso ou brincar com seus filhos, pois a sua vida frenética não lhes confere tais concessões.
Isso nos faz pensar o seguinte: embora a tecnologia e o progresso sejam úteis aos seres humanos em alguns aspectos, por outro lado, criam barreiras intransponíveis para a convivência entre os indivíduos, que no agitado microcosmo das selvas de pedra de nosso tempo, não têm a oportunidade de criar vínculos sólidos de afetividade e companheirismo com seus semelhantes porque simplesmente são premidos e suprimidos pelo senso de não existir tempo para tais conexões pessoais o que é um retrocesso contraproducente e traiçoeiro.
Nós podemos perceber que tais comportamentos hodiernos desenvolvidos pelos indivíduos são responsáveis por uma vivência cada vez mais destituída de valores que perdurem, uma vez que a ausência de um momento para si, para a família, para o próximo inexiste.



Esta não existência de tais ligações importantes entre os indivíduos favorece o individualismo frio de nossas metrópoles, a competição desenfreada perceptível em nossos dias, que não leva em conta o tipo de escrúpulo para se alcançar um determinado fim, uma vez que os outros são estranhos e, portanto, rivais a serem batidos nas arenas da vida.
O progresso deu status a uns e inviabilizou a ascensão de outros a patamares de dignidade humana. Enquanto uns privilegiados têm garantido suas regalias e faustos existenciais, outros, e, em sua grande maioria miseráveis, vivem das sobras da luxúria e do desperdício perpetrado por aqueles que insensíveis às desventuras alheias continuam vivendo em fátuo caminho de insensatez.
Podemos nos perguntar aonde este caminho irá nos levar e quais as funestas conseqüências que se abaterão sobre todos aqueles que ignoram a mudança dos tempos. No entanto, este quadro de indiferentismo reinante revela os sintomas óbvios que indicam que a nossa civilização está caminhando para um período de bestialidade e banalização dos indivíduos nunca dantes visto.
Nossa era marcada pela tecnologia e pelos avanços científicos será também o período da ausência da alteridade, da falta de amor ao próximo, do assassinato da razão e da exacerbação imoral de toda sorte de desvarios em nome do que chamamos progresso. “Eis aqui, o que tão somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias” (Ec 7.29).




Autor: Geovani Figueiredo dos Santos

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